Quem for buscar por imagens na internet, encontra um João
Ubaldo sorridente. Quem teve oportunidade de encontrá-lo pessoalmente também
tem isso na memória.
Figura ímpar, com apoio constante de sua esposa Berenice
conseguia manter a vida organizada e atender a todos da melhor maneira
possível. Distraído quanto a questões práticas da vida, maestro em escolher os
acordes perfeitos para escrever sobre e para o povo brasileiro. Ele mesmo um
brasileiro de carreira. Sotaque arrastado, olhar observador, tipificava a
figura humana do brasileiro no aspecto físico assim como com o humor constante
e ironia fina. Andarilho, nascido num lado, viveu aqui e acolá sem
discriminações, transformando em livros a mistura de histórias inventadas e
ouvidas, impregnadas de cultura portuguesa e africana como não poderia deixar
de ser. Numa época em que um enorme número de brasileiros era analfabeto, teve
a oportunidade de receber boa educação desde cedo e também nessa época se
mostrava um leitor voraz das obras de Monteiro Lobato. Terá vindo daí sua
predileção para focar na grande mistura de influências culturais que formam
nosso país?
Um dia, na Feira do Livro de Porto Alegre, atravessando a
praça para resolver uma questão, encontrei um João Ubaldo buscando um café ou
bar onde pudesse tomar alguma coisa. Fomos até o café do MARGS e ele insistiu
que o acompanhasse por sentir-se pouco à vontade entre estranhos num ambiente
diferente. Apesar da pressa em que estava, foi impossível não aceitar o convite.
Pensei: vou ficar quieta, falo demais e o homem deve estar querendo um pouco de
paz.
Então ele começou a falar. Primeiro fez um pedido e como
demorasse a ser atendido – talvez pelo grande número de pessoas no local – resolveu
que faria outro assim que chegasse o primeiro para não ter que esperar tanto
pelo segundo. Então falou: ‘vai começar’. E começou a descrever os próximos
minutos. Disse, um pouco apreensivo dentro de sua timidez, que em geral em
lugares públicos onde era reconhecido, percebia os olhares meio de canto de
olho. E assim foi.
Com aquela voz meio rouca e grave descreveu como agem os
leitores fãs de seus livros, em especial os de A Casa dos Budas Ditosos (inicialmente publicado em 1999 na Coleção
“Plenos Pecados” da editora Objetiva). Não lembro bem o ano em questão, mas o
livro estava em alta naquele momento.
As pessoas começam olhando furtivamente depois algumas se
aventuram a vir falar comigo. Principalmente as mulheres. Elas vêm dizer o
quanto gostaram do livro e os maridos arrastados junto acenam com a cabeça,
alguns sorriem. A maioria não gostou do livro, os deixou incomodados, mas não
conseguem dizer que não gostaram. Então apenas sorriem.
Mais ou menos isso que ele disse, pois a memória das
palavras exatas me escapa. Acho até que ninguém pediu um autógrafo e ele comentou
que as pessoas em Porto Alegre eram um pouco menos invasivas que em outros
lugares. Creio que isso já depende de fatores variados, mas foi essa a
impressão que sempre levou daqui, parece-me.
Formado em Direito, jornalista por profissão, professor no
Brasil e fora dele. Isso tudo é fácil de descobrir com uma rápida pesquisa onde
se descobre de todos os prêmios recebidos, sendo que para ele o maior era ser
lido. Mas o que ficará para sempre é a riqueza de sua obra imortalizada em
trabalhos na televisão, teatro, contribuições em periódicos, cinema (sendo também
roteirista), assim como seus escritos que continuarão circulando mundo afora.
Nada melhor para conhecer um ser humano como João Ubaldo – e mais da alma
brasileira - do que começar por seu legado literário.
E VIVA O POVO BRASILEIRO!
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