E tenho horror desse Mainardi, sempre tive e não li - por não ler aquela revistinha - a coluna do tal 'jornalista'.
Por outro lado, se o mercado não fosse tão restrito pelos próprios atores/dubladores que fazem reserva de mercado, em detrimento de colegas com pouco trabalho e de novos dubladores, talvez realmente mais atores procurassem esta especialização e a diversidade de vozes aumentasse.
POR FAVOR, LEIAM ATÉ O FINAL. É UMA MATÉRIA DE SUMA IMPORTÂNCIA NO MOMENTO EM QUE VIVEMOS. LEIAM E APRENDAM COMO OS PROFISSIONAIS DE DUBLAGEM SÃO TRATADOS POR INTELECTULÓIDES NESTE PAÍS.
Prezado Senhor Diogo Mainardi
Meu nome é Ricardo Vasconcelos, sou brasileiro, moro em solo brasileiro, ator em dublagem e sou monoglota, inclusive como o atual presidente do Brasil e diga-se de passagem, como a maioria dos brasileiros.
Com relação a seu artigo publicado pela revista veja, gostaria de que assim como pacientemente li o seu texto, leia atentamente o meu e-mail até o final.
Em primeiro lugar, lamento que o senhor não entenda nada sobre o é que uma dublagem de uma produção não brasileira ou uma animação (afinal não acho que crianças acompanhem legendas, quando sequer são alfabetizadas). DUBLAR, não se trata apenas de uma voz colocada sobre um imagem.
A dublagem é um processo complexo, iniciado a partir do momento que a distribuidora, ou emissora exibidora, escolhe qual estúdio (e olha que são mais de 50 estúdios no Brasil), irá realizar o trabalho.
Existe, a tradução (que não se limita a uma mera tradução, e sim uma adaptação ao nosso idioma), escolha de elenco, direção, finalização, ajustes de texto, e etc. Muitas vezes o movimento labial não cabe da boca de um personagem, como por exemplo:
A palavra “adeus” em alemão tem 4 silabas, em português 2, daí ter que adaptar. No idioma japonês, muitas vezes uma palavra emitida pelo ator original, em nosso idioma precisa de um frase para ter sentido.
O ator em dublagem, é um profissional qualificado, especializado, embora nunca valorizado. Grandes atores, de teatro, cinema, ou TV, sentem muita dificuldade de realizar tal trabalho, e só o fazem utilizando muitas horas dentro de um estúdio (pelo menos 10 vezes mais que um dos profissionais de dublagem). Eles o fazem por que o cachês para eles são elevadíssimos comparados aos nossos, pois esses entram mais com a sua imagem para o marketing do que com seu talento reconhecido no mercado em que atuam originalmente. Todo dublador é ator, porém nem todo ator é um dublador.
Talvez, se as multinacionais pagassem valores justos aos valentes atores em dublagem e respeitassem os direitos conexos destes, mais pessoas tentariam se especializar nessa honrada e difícil profissão, assim as repetições de vozes, seriam menores, pois também teríamos que trabalhar em menos produções.
O senhor gostando ou não, nosso país carece de pessoas como o senhor que devem falar alguns idiomas, talvez inclusive o mandarim (ainda que o senhor não deva assistir filmes chineses, embora muitos assistam assim como muitos lêem seus artigos em revistas e jornais).
Quero dizer ao senhor que infelizmente, entre analfabetos, deficientes visuais parciais e totais, crianças não alfabetizadas(0 a 5 anos), em processo de alfabetização (5 a 9 anos), analfabetos funcionais, terceira idade, aqueles que não tem o reflexo apurado para acompanhar uma legenda, são mais de 140 milhões de brasileiros, além de milhões de fãs de animações.
Em seu texto, a dublagem é desnecessária e foi desqualificada pelo seu artigo. Fiquei indignado com a menção de colegas meus de dublagem, e da forma desrespeitosa como o senhor tratou tal assunto.
O senhor deveria fazer uma visita a um dos estúdios de dublagem, eu terei o prazer de acompanhá-lo, e por um dia, conhecer e entender o trabalho destes profissionais, antes de jogá-lo na vala comum de pessoas desqualificadas, e inclusive mencionar nossa profissão associando-a a politica nacional, o que me deixou um pouco confuso.
Se o senhor tinha o objetivo de atacar politicamente alguém, faça-o diretamente, de peito aberto, sem envolver profissionais, que já convivem com seus problemas e preconceitos de falsos intelectuais, inclusive esses falsos intelectuais que sabem que em países como França, Itália e outros chamados de “1º mundo”, não se passa nenhuma produção estrangeira sem estar no idioma do país onde é exibido.
Espero que o senhor tenha TV digital, que tem o recurso de com um “click” ouvir o idioma original, e que seus filhos e netos, já nasçam dominando outros idiomas, assim as vozes que o senhor tenta ridicularizar não se farão presentes em sua casa.
Tenho pela revista Veja um profundo respeito, porém acho que ao citar qualquer assunto, o profissional deveria se informar, entender sobre o que está falando, afim de não prestar um desserviço.
A Veja deveria aproveitar esse deslize e fazer uma ampla matéria sobre nossa profissão. Só para o senhor saber, o segmento de animação, o qual não se faz sem a dublagem, tem que ter uma voz lá dando vida ao personagem, independente do idioma, movimenta no mundo anualmente, algo em torno de U$ 150 bilhões , e mais U$ 500 bilhões , em produtos gerados a partir destas animações. E é um mercado em franca ascensão.
A morte do Sr. Herbert Richers foi sim um perda para a industria cinematográfica, e uma grande perda para o mercado de dublagem, mas acho que muitas coisas mais relevantes também aconteceram no ano de 2009, e penso que o jornalista estava com uma certa falta de assunto na hora de escrever sua coluna (acontece às vezes), aí resolveu seguir exemplo do Sr. Boris Casoy e inferiorizar outra categoria de profissionais. O que me preocupa um pouco é que isso se torne comum, toda vez que o jornalista estiver sem assunto resolver falar mal da vida alheia.
A abordagem foi infeliz, mas serve para alguma coisa, nem que seja para percebermos que esse negócio de emprego garantido, como o do Sr. Diogo Mainardi dá a alguns indivíduos a sensação de que detêm um poder enorme, de que são a classe dominante.
Os nomes de dubladores citados de maneira grotesca, quando citados em eventos para fãs de dublagem (mercado em expansão), com milhares de pessoas presentes, causam grande alvoroço, pois tem pessoas que gostam muito disso, de conhecer pessoalmente as vozes que entram nas suas vidas.
Não me lembro de tê-lo visto ser homenageado. Embora imagino que o senhor ache isso muito “cafona”.
Mas “cafona” mesmo é essa mania que os pseudointelectuais brasileiros tem de valorizar o idioma alheio, e ter vergonha da própria origem.
Ricardo Vasconcelos
Ator, radialista, locutor, e dublador com muito orgulho.
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