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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Puxando a brasa pra minha sardinha - paciência esgotada!

Pediram-me pra ajudar os sem-teto. Pediram-me pra ajudar aqueles que sofrem com as secas. Depois os das enchentes, tsunamis, HVI+, terremotos, garotos no semáforo. Meu telefone toca à tarde, em geral é uma ONG pedindo colaboração MENSAL. No meu jornal vem encartado um DOC para doação a outra ONG. Cada pedido vem carregado de emoção e de uma certeza: a vida é dura. Mas é dura pra todos. A meu modo, colaboro com trabalho voluntário e quando possível, com doações.

Assim como qualquer outro prestador de serviço ou profissional liberal, invisto na minha formação e tenho que investir se quiser divulgar e apresentar/vender meu trabalho. Como o açougueiro paga pelo ponto e paga os fornecedores, como o médico investe em estudos e monta consultório, todos pagamos também IMPOSTOS.

A diferença entre nós é que ninguém ousa dizer ao açougueiro ou ao médico pra dar, compulsoriamente, 50% de desconto do próprio bolso para idosos, estudantes, professores e o que mais inventarem na próxima semana sem qualquer contra-partida. Até mesmo os "patrocinadores" (leia-se investidores privados com dinheiro público) têm retorno institucional.

Minha vontade é de criar um ato de desobediência civil, algo que lembre à população que sou tão povo quanto estes todos e fazer ver que este tipo de lei foi criada pra beneficiar institucionalmente determinado governo, usando novamente, 'chapéu alheio'. (Quem sabe me negar a dar o desconto? ¬¬). É justamente pra tapar o sol com a peneira, já que ele mesmo nada faz pra aumentar os investimentos públicos na principal fonte de crescimento de uma nação: sua educação. Caso não tenham percebido, arte faz parte de nosso crescimento como seres pensantes - como se isso fosse do interesse geral.

Ao criar mecanismos como este, que aparentemente beneficiam parte da população, está, na verdade, empurrando a responsabilidade pra outro segmento da população que, em sua maioria tem ainda tanto quanto ou menos recursos que os beneficiados. Ou alguém supõe que mesmo os grandes nomes da cultura brasileira são todos milionários e que recursos privados de patrocínio (repito: na verdade públicos, via leis de incentivo) batem todo dia à porta deles?

Eu podia estar roubando, eu podia estar matando? NÃO! Estar com pouco trabalho ou sem dinheiro não justifica violência. Mas eu podia ter feito um concurso público como queria minha mãe e estar inchando a máquina estatal. Minhas escolhas, dirão alguns. SIM. Justamente por isso eu nunca pedi nada 'de bandeja'. Pra manter 'meu vício' trabalho em eventos, faço assistência de produção em fotografia, publicidade, faço bilheteria e, se precisar, distribuo folhetos.

Mas hoje ao percorrer juntamente com outros trabalhadores, de ônibus e sob sol forte, temporal e novamente sol forte, das 13 às 20h por metade da cidade de São Paulo pra ir a dois testes e ainda ser assediada por mais pedidos de ajuda, resolvi pedir.

PEÇO, ENCARECIDAMENTE, QUE AS ANTES TÃO ATUANTES REPRESENTAÇÕES ESTUDANTIS PAREM DE VENDER CARTEIRINHAS PARA QUE NÃO-ESTUDANTES ABUSEM DESTE BENEFÍCIO CONCEDIDO POR MIM que pago integralmente DIÁRIA de 200 a 1000 reais para apresentar uma peça em um teatro, mais operação de som e luz, direitos autorais, equipe técnica, construção de cenário, espaço de ensaios, locação de equipamento, material gráfico, trilha sonora, etc.

PEÇO, ENCARECIDAMENTE, QUE OS ESTUDANTES QUE VIVEM DE POLPUDA MESADA E OS IDOSOS QUE VIVEM DE APOSENTADORIAS ASTRONÔMICAS tenham a decência de não pedir 50% de desconto em ingressos de R$ 5,00, R$ 10,00 e (por que não?) R$ 20,00. Já que os primeiros gastarão 200 reais - ou mais! - numa 'balada' mais tarde e os demais podem pagar caros restaurantes (que não dão 50% de desconto a ninguém!) ou tratamentos médicos no exterior, eles poderiam seguramente, permitir que os verdadeiros estudantes com baixa renda e os idosos com aposentadorias de fome sejam beneficiados pela obrigatoriedade empurrada goela abaixo de uma classe que só agora conseguiu o direito de ser encaixada no SIMPLES.
Até então servimos pra subir em palanque - alguns o fazem por ideologia, pasmem!*, servimos pra o governo aparecer POR QUE CRIOU A LEI DA MEIA-ENTRADA, servimos pra pagar até 32,5% de impostos sobre serviços prestados como artistas.

E depois de pagar meu supermercado, energia elétrica, água, condomínio, IPTU, plano de saúde, estudos, telefone, transporte, gás, contador - com a metade do que esperava ganhar, ainda tem gente que vem me pedir pra ajudar?

Desculpa gente, eu não sou ONG. Eu pago impostos supostamente pra serem usados nisso!
Me peçam pra ajudar a carregar peso, mas não me peçam mais dinheiro. Pela primeira vez em mais de 3 anos, consegui ficar acima do limite do cheque especial.
Não peçam pro açougueiro também não. Ele dá duro muitas horas como todos nós, trabalhadores, indivíduos e POVO.

E no final do ano, ainda te pedem caixinhas...

*Pra quem não entendeu, fui irônica. E sou atriz, eventualmente produtora.

OLHEM ISSO, QUE MARAVILHA!!
http://www.youtube.com/watch?v=uP8OhGzWat0

BOTANDO LENHA NA FOGUEIRA:
http://www.youtube.com/watch?v=R7S_ZP-XUT8
http://www.youtube.com/watch?v=p9IVocrIeYw

Um comentário:

Heat disse...

noohh

mas tem horas q cansa mesmo...

:/