Já tendo feito parte da chamada “classe média*” que muitos
dizem hoje estar extinta, questiono-me sobre coisas que só posso entender
existirem em países como Brasil, onde nada faz muito sentido.
Que não pese com uma reclamação, mas um pensar-desabafo.
Com uma renda BRUTA entre 10 e 12 mil reais POR ANO, não
estou apta a candidatar-me ao bolsa-família posto que adotar animais
abandonados não é aceito como família. Como autônoma, sou obrigada pela legislação
vigente a emitir nota fiscal (impostos e honorários mensais de contador) ou RPA
(com descontos ainda maiores, quando aceita) apesar da regulamentação da
profissão de artista afirmar que não somos obrigados a ter nota. Pago
mensalmente previdência oficial e privada. Apesar disso, pago mensalmente plano
de saúde. Recolho os impostos sempre que emito nota e não são retidos na fonte.
Pesando o fato de, como artista, grande parte do trabalho
depender de ensaios que só são remunerados se fizerem parte de um projeto
contemplado em edital público ou privado ou assemelhados, imagina-se o tempo
investido pessoalmente na produção de meu trabalho.
Caso eu fique sem trabalho, como tenho CNPJ, não posso pedir
seguro-desemprego, posto que obviamente, eu não procuraria trabalho pra receber
o farto benefício, não posso ficar “mal-acostumada”.
Caso ocorra a alguém perguntar: LÓGICO QUE NÃO TENHO 13º salário
nem férias remuneradas. Aliás, recentemente precisei olhar no dicionário o
significado real da palavra.
Sem discutir méritos, quando ocorre a algum legislador fazer
demagogia com o meu trabalho – como no caso de 50% de desconto para idosos em
ingressos de teatro – por que não lhe ocorre também uma contrapartida? POIS, é,
esse ‘desconto’ que muita gente forja, sai do bolso dos artistas. Ah, nem todo
município ou estado tem legislação pertinente a desconto para estudantes; não,
não é Lei Federal e nem sempre o desconto é o habitualmente praticado de 50%,
MAS DE BEM MENOS (às vezes 15%). Mas os custos de produção, apresentação, taxas
e impostos pertinentes – sem falar nas contas de casa – são pagos
integralmente: 100%.
Obviamente estou anos-luz dos salários de cargos públicos do
executivo e magistrados do judiciário a quem ainda se paga, além do robusto salário,
auxílio (moradia, roupa, educação, transporte, etc) . Aquelas coisas que, segundo
reza a lenda, o trabalhador deve pagar com o salário mínimo.
Cabe uma pergunta: se eu não recebo seguro-desemprego pra não
ficar “mal-acostumada e desmotivada”, por que eles recebem auxílio-educação
para colocar os filhos em escolas privadas – que o trabalhador comum pagaria do
seu bolso se o salário permitisse – quando estão no cargo para fazer melhorias
na educação pública? Esse auxílio não vai deixá-los sem motivação para melhorar
o ensino no país?
Aí a gente precisa passar pelo judiciário para fazer o
inventário após o falecimento de um parente próximo e o patrimônio praticamente
some pagando impostos, custas judiciais e advogados. Sim, apesar de receber do
contribuinte os salários e todo tipo de auxílio para nunca precisar meter a mão
no bolso na hora de pagar as contas, o judiciário se remunera também do patrimônio
de quem morre.
Com tudo isso, a pergunta que não me sai da cabeça: como é
que eu* pago todas as minhas contas e ainda dou conta de pagar os benefícios
usufruídos pela população de baixa renda (o que é ótimo) e pelos de altíssima renda?????
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