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sábado, 18 de outubro de 2014

Coisas que só o Brasil faz pela gente.

Já tendo feito parte da chamada “classe média*” que muitos dizem hoje estar extinta, questiono-me sobre coisas que só posso entender existirem em países como Brasil, onde nada faz muito sentido.
Que não pese com uma reclamação, mas um pensar-desabafo.

Com uma renda BRUTA entre 10 e 12 mil reais POR ANO, não estou apta a candidatar-me ao bolsa-família posto que adotar animais abandonados não é aceito como família. Como autônoma, sou obrigada pela legislação vigente a emitir nota fiscal (impostos e honorários mensais de contador) ou RPA (com descontos ainda maiores, quando aceita) apesar da regulamentação da profissão de artista afirmar que não somos obrigados a ter nota. Pago mensalmente previdência oficial e privada. Apesar disso, pago mensalmente plano de saúde. Recolho os impostos sempre que emito nota e não são retidos na fonte.
Pesando o fato de, como artista, grande parte do trabalho depender de ensaios que só são remunerados se fizerem parte de um projeto contemplado em edital público ou privado ou assemelhados, imagina-se o tempo investido pessoalmente na produção de meu trabalho.
Caso eu fique sem trabalho, como tenho CNPJ, não posso pedir seguro-desemprego, posto que obviamente, eu não procuraria trabalho pra receber o farto benefício, não posso ficar “mal-acostumada”.
Caso ocorra a alguém perguntar: LÓGICO QUE NÃO TENHO 13º salário nem férias remuneradas. Aliás, recentemente precisei olhar no dicionário o significado real da palavra.

Sem discutir méritos, quando ocorre a algum legislador fazer demagogia com o meu trabalho – como no caso de 50% de desconto para idosos em ingressos de teatro – por que não lhe ocorre também uma contrapartida? POIS, é, esse ‘desconto’ que muita gente forja, sai do bolso dos artistas. Ah, nem todo município ou estado tem legislação pertinente a desconto para estudantes; não, não é Lei Federal e nem sempre o desconto é o habitualmente praticado de 50%, MAS DE BEM MENOS (às vezes 15%). Mas os custos de produção, apresentação, taxas e impostos pertinentes – sem falar nas contas de casa – são pagos integralmente:  100%.

Obviamente estou anos-luz dos salários de cargos públicos do executivo e magistrados do judiciário a quem ainda se paga, além do robusto salário, auxílio (moradia, roupa, educação, transporte, etc) . Aquelas coisas que, segundo reza a lenda, o trabalhador deve pagar com o salário mínimo.
Cabe uma pergunta: se eu não recebo seguro-desemprego pra não ficar “mal-acostumada e desmotivada”, por que eles recebem auxílio-educação para colocar os filhos em escolas privadas – que o trabalhador comum pagaria do seu bolso se o salário permitisse – quando estão no cargo para fazer melhorias na educação pública? Esse auxílio não vai deixá-los sem motivação para melhorar o ensino no país?

Aí a gente precisa passar pelo judiciário para fazer o inventário após o falecimento de um parente próximo e o patrimônio praticamente some pagando impostos, custas judiciais e advogados. Sim, apesar de receber do contribuinte os salários e todo tipo de auxílio para nunca precisar meter a mão no bolso na hora de pagar as contas, o judiciário se remunera também do patrimônio de quem morre.


Com tudo isso, a pergunta que não me sai da cabeça: como é que eu* pago todas as minhas contas e ainda dou conta de pagar os benefícios usufruídos pela população de baixa renda (o que é ótimo) e pelos de altíssima renda?????




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