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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A questão da dublagem III

MAIS UM ATOR EM DUBLAGEM DEMONSTRA SUA INDIGNAÇÃO PELA FALTA DE RESPEITO DE CERTO 'JORNALISTA' OPINATIVO. Muito me admira que Paulo Francis o tivesse na conta de amigo. Talvez se o tal jornalista tivesse aprendido mais com o caráter de Francis, tivesse a decência de se retratar com a classe.

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Gostaria de demonstrar minha enorme indignação quanto a coluna do senhor Diogo Mainardi do dia 09/01/2010 sobre o grande Herbert Richards e a dublagem brasileira.

A abordagem foi muito infeliz. Dizer que um homem empreendedor e inteligente como Herbert Richards foi o grande causador do assassinato da nossa língua portuguesa é, no mínimo, falta de conhecimento histórico. Os estrangeirismos remontam à ligação do Brasil com a Inglaterra no século XVII.
Já quanto aos "predicados violentados", os "complementos pervertidos" e os "particípios corrompidos"... Seria muita maldade depositá-los nas costas de apenas um ilustre brasileiro, precedido de milhões de outros - famosos ou não, que aqui nasceram ou que para cá vieram - e que, eles sim, aos poucos, moldaram a língua que possuía "sonoridade épica", "volteios eruditos" e "latinismos". Como assim define o senhor a linguagem de Camões.

A verdade é que os dubladores falam com e para o grande público, assim como vocês, jornalistas. E, infelizmente, nosso país ainda carece de erudição - como pode ser visto nos textos da própria revista que, se falasse apenas aos eruditos, não seria líder de mercado. Ou será que a VEJA venderia tanto se usasse o português de Camões nos dias atuais? E porque será que o senhor Mainardi assim não escreve suas colunas?

Mas diferente dos profissionais da imprensa, os da dublagem falam a um público ainda menos culto, como as crianças que não sabem ler, as crianças e adolescentes que lêem e não entendem (2,8% da população brasileira segundo o Censo do IBGE de 2008), os adultos analfabetos (10%) e os deficientes visuais (cerca de 30 mil no país). Sem contar aqueles que não possuem condições financeiras de comprar uma revista!

Assim, os dubladores precisam ser ainda mais "coloquiais" ou não serão entendidos e a dublagem será desnecessária.

Como os jornalistas, os dubladores possuem 'dead-line', mas diferente de vocês, eles não possuem revisores. E os deslizes - raros, porém, humanos - não podem ser ratificados e desculpados na edição seguinte, como assim fazem vocês.

Dizer que profissionais tão preparados, talentosos, dignos e mal pagos como os dubladores poderiam dar voz aos políticos que envergonham nosso país é, no mínimo, sem sentido. E digo porquê. Diferente deles, os dubladores prestam serviços à sociedade - sociedade esquecida, exatamente, pelo nosso poder público.

Mario Monjardim, Carlos Campanille, Sumara Louise e outros citados pelo Mainardi são pessoas da mais alta competência. Profissionais talentosos que jamais foram reconhecidos pela grande imprensa pelo excelente trabalho que exerceram e continuam exercendo junto à classe artística brasileira. E que não enriqueceram com seu trabalho, como assim fazem os políticos.

TRABALHO!

Diferente dos políticos citados semanalmente pelo senhor na sua coluna - sim, confesso, sempre fui leitor assíduo de Mainardi - e comparados a esta classe.
Nas suas palavras, "o resultado (da comparação) só pode ser uma sociedade como a nossa, EM QUE TODOS OS VALORES SE EQUIVALEM E, PORTANTO, SE ANULAM!!

Equivaler o trabalho de um dublador com o de um político? Não entendi!!!

Como estudante de jornalismo, posso falar que esta coluna foi de grande elucidação. Com certeza, quando formado, vou para o mercado de trabalho melhor preparado por causa dela. Senti, na pele, o mal que pode fazer a publicação de um texto sem embasamento. Sem pesquisa de campo. Sem dados oficiais. Sem critério. Se o senhor Diogo Mainardi tivesse saído da frente de seu computador, em seu belo apartamento no Leblon, e tivesse conversado com dubladores, tivesse conhecido seus problemas, suas condições e suas privações, com certeza não teria escrito uma coluna tão desrespeitosa a uma classe tão trabalhadora e pouco reconhecida.

Desculpem o desabafo. Mas, como ator em dublagem e aspirante a jornalista, não poderia ficar calado.

Thiago Longo

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