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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Pão e circo: bolsa-família e vale-cultura.

Após ler vários artigos sobre o vale-cultura, concordo com a posição do professor de macroeconomia da Universidade Federal do Ceará, Marcelo Callado.
Também acredito que as pessoas vão dar um jeito de transformar isso em moeda pra outros usos, pois cada um sabe onde lhe aperta o sapato. No máximo, vai haver um aumento significativo nas vendas de CDs e DVDs. Lembremos as banquinhas de vale-transporte por todo o país.

Há muito tempo eu digo, repito, tripito: precisamos de BOA EDUCAÇÃO BÁSICA. É ela quem cria o desejo de conhecimento, a fome de pensar, aprender mais. Se fosse apenas o custo que influenciasse a busca por cultura, as bibliotecas públicas estavam com fila de espera na porta todos os dias!
O MASP (Museu de Arte de SP) tem entrada gratuita nas terças-feiras. Fica lotado? O MARGS em Porto Alegre tem entrada franca permanente. Lota?
O SESC tem apresentações gratuitas de vários espetáculos, tem bibliotecas, tudo em várias cidades do país. Suas salas de espetáculos lotam quando levam a cartaz nomes conhecidos do grande público, geralmente através da televisão. Já fui a palestras de escritores maravilhosos em unidade do SESC em SP onde havia um total de 15 pessoas numa sala pra 50.
Há, em SP, vários centros culturais como da Caixa Federal, do Itaú, CCBB e outras instituições. Espaços bem localizados, bem equipados. Em várias outras cidades estão eles também presentes e ocorre o mesmo que em municípios onde são oferecidos espetáculos GRATUITOS: sobram lugares.
Quantos espaços estão abertos gratuitamente ao público pelo país?

É o custo unicamente que impede de ter acesso a exposições, a livros, a música, peças de teatro, de dança? NÃO!! É O DESCONHECIMENTO! É A FALTA DE INTERESSE PELA FALTA DE APRENDIZADO.
Mesmo em tempos ‘bicudos’, aproveito todas as possibilidades gratuitas e/ou baratas de teatro, cinema, palestras, museus, shows ao ar livre. Por que é do MEU INTERESSE. Aprendi a buscar por estas coisas. O cinema do SESC deve ter mais de 300 cadeiras e é muito bem equipado. Há dias em que o ingresso pode custar 2 reais. Nunca vi mais que 10 pessoas em uma sessão.
Livrarias incentivam a leitura levando palestras gratuitas e autores para conversar com o público. Lota...? Só vão as mesmas pessoas sempre.

Como a maior parte (pra não dizer todas) das matérias disponíveis através do site do Ministério da Cultura sobre o tema foi produzida no Estado do Ceará, pelo jornal O POVO, foi também lá que houve uma experiência com duas pessoas pra ver o que fariam com mais este benefício que o empregador precisa oferecer se o empregado assim o desejar – que pode ser mais um motivo pra aumentar o trabalho informal no Brasil – e o resultado foi o seguinte (não me grite ‘preconceituosa’ ou ‘elitista’ antes de ler até o final):
- livros de auto-ajuda e ir ao cinema ver Harry Potter.
E o atual Ministro da Cultura diz - também em longa entrevista ao mesmo jornal: “Temos que investir na maturidade e no protagonismo do povo brasileiro. Os trabalhadores saberão encontrar os caminhos para se informar e ter acesso à produção de qualidade. (...). É a prática que nos ajuda a formar nossos gostos e escolhas.”
Com certeza é a prática que nos leva à formação, mas essa prática deve começar na infância, na educação FORMADORA e não depois de gerações em frente a Chacrinha, Xuxa, Faustão e Gugu, caro Ministro.
Um pai que compra CDs de funk (vou me abster de falar o nome do artista) com o Vale-cultura que exemplo dá ao filho que já não tem uma boa formação escolar?
O próprio ministro na mesma ‘entrevista’ afirma que é preciso levar a cultura pras escolas, formar novas gerações de platéias e consumidores de cultura assim como estimular a melhoria da produção cultural. Mas, pelo visto, não são prioridades já que não há qualquer projeto nesse sentido; começa-se pelo consumo de algo que supostamente é ruim pois precisa de melhoria e não tem platéia procurando por isso. A tendência é acostumar a consumir o mesmo sempre, e o que vier de fora do país. Então a ‘culpa’ da má formação cultural é da classe artística com produção de qualidade duvidosa? No fim das contas, quem vai pagar esse pato será novamente a classe artística. Tomara que eu esteja errada. Bons e ruins existem em toda parte. BOA FORMAÇÃO ESCOLAR dá capacidade de distinguir um do outro.

Quando perguntado se ia a teatro, já ouvi badalado cineasta de outro estado – em entrevista - afirmando que ia a teatro sim. Quando vinha a São Paulo, apesar do seu estado de origem ter uma das mais ricas identidades culturais do país com grupos conceituados internacionalmente. Inclusive com muitos atores que foram seus parceiros em projetos independentes (leia-se: sem verba pra cachê).
Já ouvi pessoas do meu lado no teatro comentando que era bom quando tinha alguma peça com ator DE VERDADE (referindo-se a ator com fama televisiva) e que havia poucas opções na cidade no momento. Corrijam-me: São Paulo tem cerca de 300 espaços teatrais ocupados, é isso? Porto Alegre, com 10% do tamanho tinha, na minha última contagem uns 30 espaços alguns anos atrás.

Como manter estas mentalidades com vale-cultura pode ajudar no crescimento do cidadão?

Sinto-me inclinada a pensar que Gilberto Dimenstein acertou no uso da expressão “bolsa-circo”, afirmando que é “um risco de desperdício de bilhões que só explica pelo clima de eleições para agradar trabalhadores, artistas e empresários”. Desconheço as motivações dele, mas sei das dificuldades diárias de trabalhar com cultura e da falta de interesse da população. Preciso concordar que não é uma questão da interferir no gosto pessoal, mas quando a comunicação de massa dirige o ‘gosto’ e os ‘interesses’ de milhões de pessoas, no que isso pode aumentar o conhecimento cultural da população brasileira? Pode apenas dar entretenimento.

Enquanto o governo de São Paulo cria uma cortina de fumaça com a Lei antifumo, o governo federal dá novo sentido à expressão ‘política do pão e circo’, inaugurada com o bolsa-família e embalada com o vale-cultura. Assim como a faxineira da casa do meu tio parou de trabalhar pra não perder o bolsa-família (apenas um exemplo entre centenas de milhares pelo país da Lei de Gerson) a moça no Ceará foi ver Harry Potter, afinal, foi isso que ensinaram pra ela.
Aí me vem outra dúvida: onde é o limite entre cultura e entretenimento? Pra mim, cultura é entretenimento, mas o entretenimento de algumas pessoas não me interessa. E a você?

O vale-cultura é vale-entretenimento?

Isto me ajuda, ilustrando melhor meu ponto de vista.



Eu, que sempre havia votado no Lula até sua primeira eleição, não acredito que um presidente tenha necessidade de usar termos como "imbecil" pra se referir àqueles que discordam dele, com um idioma tão rico em vocabulário quanto o nosso.

Há muita gente pensando no assunto de norte a sul do país. LEIA.

*A propósito, eu também vi algum filme de Harry Potter, nada contra. Vale como entretenimento a meu ver. Ponto.

3 comentários:

padma wangmo- disse...

cultura é cultivo, certo? réuri póter comi um, arrotei e esqueci. não dá para dizer que vale-culturei...
adorei o ponto de vista. e concordo, silby. muitas das melhores manifestações culturais que presenciei, foram gratuitas. pois é. o que já está aí, não elege ninguém, tem que ser criado, bombástico...ACESSO à CULTURA...faz-me rir. parabéns

Anônimo disse...

Olá,

venho discordar de seu ponto de vista.

Nós vivemos em um país extremamente desigual, não há acesso real á educação, saúde, cultura e muito menos à informação.
Tendo em vista a nossa realidade social não podemos 'marginalizar' uma proposta que vem no sentido de ampliar o acesso á cultura.

Acredito que o argumento que não há interesse do *povo* em ir a teatro ou ter acesso à cultura é um tanto quanto elitista.

Quero lembrar que acesso à cultura é, pois, um direito fundamental.

Silvana da Costa Alves disse...

CARO ALTERIUS
Obrigada por seu comentário, já está publicado.
Creio que nossa 'discordância' principal está nos significados de 'entretenimento' e 'cultura'.
Entre tantos direitos fundamentais que temos e não são cumpridos, por que sempre o artista e a iniciativa privada precisam pagar pelo que o Estado não devolve à população pagante de impostos? (vide a meia-desvirtuada-entrada)
Cultura começa SIM com educação, sem ela, como diferenciar 'cultura' de 'diversão' ?
Continuo com minha opinião de que é mais uma nuvem de fumaça pra que a população se mantenha na 'ignorância' no sentido real da palavra.

Grata,
Silvana