Sempre há uma ligação biográfica em cada trabalho artístico.
Recentemente comecei a conhecer o trabalho cinematográficoda realizadora naturalizada canadense Deepa Mehta. A crueldade e singeleza com que individualiza questões de seu país natal, a Índia, encantam, chocam e fazem pensar. Seu olhar agudo percebe a realidade numa cidade contemporânea, mescla de usos ocidentais e costumes tradicionais em “Fogo” e através da simplicidade do olhar infantil temos uma versão não-romantizada da independência política do país em 1947, no filme “Terra”. Aliás, o olhar infantil se faz sempre presente.
A individualização nos permite compreender, humanamente, as situações vividas,
coisa impossível através de textos históricos ou artigos jornalísticos. Entre outros filmes, há ainda “Água” de 2005 que, imagino, complete uma trilogia.
Em “Fogo” (1996), o olhar sobre a realidade feminina e a não menos perdida realidade masculina na índia ‘moderna’ nos traz sons, cores e até – ouso dizer – odores atuais sem perder a ligação com a identidade tão religiosa do país.
“Terra” (1998) poderia ser resumida na cena em que três crianças conversam sem se importarem com as diferenças que mataram mais de um milhão de pessoas apenas no ano da independência da Índia. Poderia. Mas é muito mais que isso. Ali a realizadora consegue deixar no ar certas questões; onde deixamos nossa inocência? Quando deixamos de ser simples para complicar a ‘essência’ de ser humano’?
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