Pesquisar este blog

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Spagna Lima


Marcelino escreveu que se fosse ator, seria ele. Há muito sei que se eu tivesse coragem seria alguém como ele. Temos muitos princípios e sonhos parecidos. A abissal diferença é que ele faz acontecer e eu, perdida entre agradar o mundinho seguro da classe média em que cresci e o mundo da arte, de que não consigo me desligar apenas sonho à espera de alguém como ele, que me carregue junto, como fez algumas vezes.

Leio sua carta com os olhos e rosto encharcado de lágrimas. Por ele, por mim, pelos amigos que perdi de vista. Pela situação que vivemos ambos no momento. Pelo nosso cansaço. Pela nossa incrível capacidade de seguir em frente.

Pela mente correm imagens do dia em que nos conhecemos, quando fomos buscar a cama que seria da Alice por uns dias aqui em Porto Alegre, emprestada pelo Vinícius Cáurio. Depois voam lembranças de São Paulo, sua amizade incondicional, sem medo de dizer o que precisava ser dito. Pra isso são também os amigos. Da sua força em buscar sempre mais. Sua força em me estimular a seguir.

Lendo sua carta sinto uma dor imensa por não ter conseguido ir a São Paulo nos últimos meses, ver os 10 anos de Alice e tudo mais. Lendo sua carta lembro dos amigos de quem precisei me despedir antes do previsto por mim ou por eles, acho.
Lendo sua carta penso na minha incapacidade de lutar mais por aquilo que quero. Lendo sua carta me sinto tão covarde que me dá vergonha. Lendo sua carta sinto.
Muito. Por aqueles que não consigo ajudar. Lendo sua carta sinto uma vontade imensa de mudar tanta coisa e olho pro momento e percebo que tive tantas oportunidades não aproveitadas. Lendo sua carta reconheço os tesouros que a vida me trouxe e que aproveitei. Lendo sua carta lembro das amizades que foram. Nem por isso deixaram de ser importantes. Quem disse que era pra sempre?

Lendo sua carta me sinto pequena, frágil, incapaz. Vontade imensa de tirar a dor lá de dentro dele. De dar colo, casa. O nosso apartamento é bom por isso. Por que nos permite chorar à vontade, ouvir a música que quisermos, na hora que der vontade. Dormir na hora de acordar e acordar na hora de dormir. Comer porcaria sabendo que não é legal. Só por que deu vontade.

Ao mesmo tempo uma compreensão do que ta lá dentro e dos rumos escolhidos e trilhados. Tive a sorte de ter amigos. Mas alguns são como sonhos realizados. Um deles é você, Rodolfo.

Um comentário:

Unknown disse...

Só posso te dizer que você se tornou uma amiga pontual mesmo a distância. Isso prova que é possível acolher sem estar presente. Sim, queria muito que você tivesse presenciado com os próprios olhos um momento tão efêmero quanto o evento. Conhecido João, visto a continuação do Réquiem (não está gravado), sentido a energia da casa, tudo e todos. Mas não temos mais idade para ficarmos como piralhos mimados a reclamar a ausência. Temos que encarar que algumas coisas são assim mesmo, as vezes. Não dá para ter tudo e todos ao redor. Mas você estava lá, eu estava no seu universo particular. Estava junto a ti, mesmo que por ventura você não pode vir. E isso de certa forma bastou. Creia!