Existe um abismo estreito e profundo entre cumpridores de
tarefas e seres humanos.
Geralmente percebemos a diferença quando vivemos alguma
situação extrema e difícil em que precisamos, sobretudo, de todo carinho
possível. Não há como passar, pra todas aquelas pessoas solícitas que se
oferecem pra ajudar, problemas e questões que só podem ser resolvidas e vividas
por nós. Nesses momentos, tudo que precisamos é o carinho de um telefonema, uma
mensagem de apoio, uma presença amiga.
Dentro de um hospital a vida corre diferente. O tempo passa
de forma estranha. Parece lento e ao mesmo tempo é rápido. Os dias e situações
se confundem na memória de quem fica muito tempo lá. Situações complicadas são
o cotidiano de pessoas que escolheram a área da saúde como ofício. Há algum
tempo procura-se resgatar a humanidade entre os profissionais da saúde. E
percebe-se como isso está sendo posto em prática dentro do Complexo Hospitalar
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
Após quase 30 dias dentro da Santa Casa só podemos olhar com
gratidão pra cada uma dessas pessoas. Pessoas com quem compartilhamos aflições
por familiares hospitalizados e também pessoas que lá estão por uma escolha de
vida. É praticamente um sacerdócio dedicar-se da maneira como fazem funcionários
da copa, da limpeza, da enfermagem, os médicos, funcionários administrativos. A
administração procura fixar a idéia de que os pacientes e seus familiares
precisam ser tratados como clientes. Falha, pois todos nos trataram como seres
humanos e por isso, não há preço. Não há salário que os faça ainda melhores do que
já são.
Uma amiga está com a mãe hospitalizada no mesmo andar e por
isso nossa vida ficou, durante semanas, centralizada no Hospital Santa Rita. Observamos
situações diversas em que paciência, dedicação, carinho, competência são
constantes em cada atendimento. Em casos felizes como o nosso em que levamos
meu pai pra continuar o tratamento em casa seria fácil trabalhar com alegria e
dedicação. Mas o que dizer de momentos em que foi necessário um atendimento de
urgência no meio da madrugada ou atenção emergencial numa tarde aparentemente
calma? A mesma dedicação, calma, carinho, competência, agilidade. Humanidade.
Se há falhas, ficam por conta da falência do sistema de saúde
do país, não importando se temos um plano de saúde especial, pois a falta de
leitos e superlotação da emergência são apenas a ponta visível do iceberg.
Palavras são sempre poucas pra expressar gratidão quando tudo que nos ocorre são lágrimas. Tristeza, alegria. Lágrimas.
Lágrimas que muitas vezes surgem em momentos de desespero brotam em nossos olhos sem que saibamos como contê-las. Mas não é necessário, pois neste momento elas são de gratidão profunda por cada ser humano que encontramos nesses corredores.
Mas esta postagem era pra ser mais simples. Nossa família só quer dizer com um olhar sincero: ESTAMOS MUITO AGRADECIDOS.
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