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terça-feira, 19 de março de 2013

Experiência Antropológica

Toda vez que passo por uma experiência dessas, tenho esse ímpeto de compartilhar com o mundo, pois sinto o quanto aprendo e quanto isso pode me fazer uma pessoa melhor. Volto ao hospital onde levava um querido amigo anos após ter me despedido dele.
Creio que todo mundo deveria ter a possibilidade de passar 24 horas acompanhando a rotina de um hospital, pra dar mais valor à sua saúde, à prevenção de doenças, acidentes e, sobretudo, ao profissional da área da saúde.
Juntamente com a educação, é a área que eu respeito com todas as minhas forças. Especialmente aqueles que fazem mais do que um trabalho remunerado. Que cotidianamente doam seu carinho, sua atenção, sua paciência a pessoas que nunca tinham visto e seus familiares.

Já escrevi antes sobre a comunidade que se forma dentro do ambiente do hospital; quero lembrar da imensa rede de amigos que de alguma forma está disponível pra realmente ajudar. Todos em vibração, preces, pensamentos positivos e vários completamente prontos pra fazer o que for necessário pra ajudar.

Mais que nunca creio firmemente que uma campanha antitabagismo seria eficaz se incluísse (ou fosse apenas composta por) uma visita de 12 horas na ala de tratamento do câncer. Naturalmente existem diversos tipos de câncer. Mas muitos são sabidamente causados pelo fumo. Incluir imagens ou frases no maço de cigarros não dá a real dimensão.

Chegar antes do amanhecer e acompanhar a espera na fila do SUS pra marcar uma consulta que pode demorar meses pra acontecer. Depois dela a longa espera por exames. Outro tanto pelos primeiros cuidados e tratamentos. Hoje creio que a imensa maioria perde mesmo a vida nessas filas.

Mesmo na ala reservada a convênios e particulares, o quadro é triste. Os profissionais correm o dia todo de um lado a outro do corredor de portas enfileiradas e quando se passa por elas enquanto abertas, percebe-se a dor que lá habita. A maioria das pessoas não tem parentes ou amigos que possam cuidá-las ao longo do dia e sobrecarregam a enfermagem. Nos olhos, a dor mal-disfarçada por medicação pesada que causa efeitos igualmente indesejáveis.

Pacientes que fumaram por décadas não são sequer sombra das pessoas que foram. Respirar, comer e todas as necessidades fisiológicas mais humanas transformam-se em obstáculos a serem vencidos com determinação que alguns não têm mais. Tristes imagens de olhares perdidos sendo vencidas dia após dia na fragilidade do corpo.

Nessas horas que me convenço de algo que penso há muito: corrupção e desvio de verbas públicas devem ser tratados como crimes hediondos, posto que inconcebível ver seres humanos tratados como lixo pra que uns poucos acumulem cifras que não gastariam em dezenas de vidas, se merecessem tê-las.

Perdão é divino, se costuma dizer. Tenho muito dificuldade em perdoar quem rouba a vida e saúde alheias.

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