Em ano de eleição, penso numa coisa que se tornou uma
premissa básica pra mim: todo aquele que crê ter o direito de ser chamado de ‘cidadão’
precisa, pelo menos uma vez na vida, ir a uma sessão plenária da câmara
municipal de sua cidade e, dentro do possível, assembléia legislativa e
congresso nacional. Só assim se começa a ter a mínima idéia do que aquilo
representa.
Dito isso, façamos um breve resumo da atual situação do
Centro Cenotécnico do Estado em Porto Alegre.
Centro Cenotécnico: aparelho PÚBLICO ESTADUAL que, sendo um
antigo prédio (com importância histórica) da RFFSA, há 17 anos abriga
atividades relacionadas à produção cultural do estado do Rio Grande do Sul. Nele
é desenvolvida 80% das atividades do Estado relacionadas, principalmente, a
questões de cenografia e técnica. Quase 30 municípios gaúchos já utilizaram
suas dependências e serviços para produção de cinema, teatro e carnaval entre
outras atividades como Natal Luz de Gramado, ensaios, oficinas, cursos, guarda
de cenários e apresentações artísticas, inclusive algumas programadas para o próximo
Festival Porto Alegre Em Cena, hoje realizado pela Prefeitura. Há inclusive
projetos em andamento especialmente pensados para o local, como uma reforma sendo feita no momento! Levante a mão quem, trabalhando em Porto Alegre, nunca
usou o lugar!
FATOS:
A Secretaria para a Copa tem os planos de obras em função do
evento há mais de 2 anos.
Há poucos dias, a
comunidade cultural foi pega de surpresa – nem mesmo o Diretor do Instituto
Estadual de Artes Cênicas (Marcelo Restori), responsável pelo espaço recebeu
qualquer informação oficial até agora – por um comunicado da Prefeitura de
que o espaço deveria ser desocupado até a metade do mês de julho para DEMOLIÇÃO
dos prédios que compõem o Centro Cenotécnico para dar lugar a uma obra viária
subitamente imprescindível. O espaço em volta é tão ocioso que até mato tem nos
arredores. A prefeitura oferece pagar o valor venal do prédio como
ressarcimento.
Vamos pensar!
Quem é a prefeitura para determinar o valor de um bem
cultural de tamanha importância? Não há base jurídica que justifique que o
poder executivo, sozinho, decida o que tem ou não importância cultural para a
comunidade.
Por que o poder público tenta fazer passar despercebida mais
esta barbaridade deixando para avisar ‘na última hora’ uma classe que
sabidamente faria mais alarde que os moradores hoje sem casa da Vila Tronco?
Diante da quase inevitável demolição do espaço, a comunidade
busca junto a prefeitura municipal, um local com condições no mínimo iguais de espaço
para deslocamento de materiais e atividades nele desenvolvidas. É tratada com descaso e arrogância.
Sabemos, a partir do valor legado à cultura nos orçamentos públicos,
a dimensão da importância que os gestores públicos dão à cultura. Em Porto
Alegre, não recebe nem 0,07% do orçamento. Essa é a cidade que pretende ser
chamada de “Capital Cultural do MERCOSUL”? Faz-me rir!!
E ENCHEM A BOCA PRA FALAR DE PORTO ALEGE EM CENA, BIENAL DO MERCOSUL, NATAL LUZ DE GRAMADO. Quem vocês pensam que efetivamente produz isso senão artistas e técnicos?
A cultura costuma servir de palanque a oportunistas que vêem
na política partidária uma forma fácil de ganhar dinheiro e poder. Os poucos que
hoje em dia têm intenção legítima de fazer algo pela comunidade em que vivem são
ofuscados pelas falcatruas que assolam o país.
Espantoso é ver como, de repente surgiu tanto dinheiro para
obras. A propósito disso, famílias desalojadas em Porto Alegre – a título de ‘mobilidade
urbana’ vivem de aluguel pago pela prefeitura. Pelo menos até o final da copa...
Obras que antes não eram necessárias passaram a ser
prioridade. PARA QUEM?
Como bem lembrou o presidente do SATED/RS em sessão plenária
na Câmara dos Deputados, a COPA acontece em Porto Alegre durante menos de 15
dias em 2014. Não podemos esquecer as mais de um milhão e setecentas mil
pessoas que vivem e continuarão a viver e trabalhar cidade e nos arredores. E toda cadeia produtica que a produção de cultura envolve.
Nesta sessão a classe artística teve a oportunidade de se
manifestar e ter a atenção dos vereadores que antes se negaram a falar conosco
antes de 7 de agosto. A demolição está prevista para iniciar em 16 de julho!
Tive oportunidade de ver vereador chamando cidadão, que paga
seu salário, de mentiroso. Tive oportunidade de ver ‘colega’ tentando censurar
nossa manifestação legítima no espaço destinado AO POVO (com que intuito? Preservar suas 'boas relações'e 'benefícios'?). Tive oportunidade de
ver vereador dizer que nossa classe agrediu o poder executivo no momento em que
traz a público os fatos.
Os cerca de 30 artistas de várias áreas da cultura que lá
estiveram conseguiram uma reunião com todas as instituições envolvidas e a
comissão parlamentar de cultura da Câmara, marcada para dia 12 de julho próximo
no sentido de conseguir, pelo menos, a troca do espaço por outro semelhante
recentemente reformado pela prefeitura e de propriedade desta na Rua Olavo
Bilac, hoje servindo de depósito para a Secretaria da Fazenda.
Espera-se que o bom senso prevaleça, mas estaremos lá dia
16, com lágrimas nos olhos, para ver mais um público virar pó enquanto alguns
se locupletam desavergonhadamente. E esperamos que os que se chamam artistas compareçam quando convocados a fazer sua obrigação: defender seu direito ao trabalho, seus espaços duramente conquistados e principalmente, seu direito de fazer parte da sociedade onde vive.
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Após refletir e ter algumas conversas interessantes, achei por bem voltar e suprimir uma frase (MAS PELO MENOS EU FAÇO ALGO ALÉM DE COMPARTILHAR NO
FACEBOOK.) do meio deste texto por entender que cada um é livre pra pensar e agir da maneira que pode e quer e eu não tenho o direito de questionar isso.
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