Os comentários não eram favoráveis. Do meu lado reclamaram do “ritmo” durante o intervalo. Um casal da frente não voltou pro segundo ato. O público reclamante certamente é público levado ao teatro mais pelos nomes que costumam ver nas telas de suas televisões e que, provavelmente, pouco sabia sobre o que ia assistir. Este, acostumado a produtos pasteurizados, saiu “cansado” pela falta de hábito de ouvir textos mais elaborados, em que prestar atenção que está sendo dito para formular seus próprios pensamentos e conclusões não é uma constante.
De minha parte, gostei de ver o texto privilegiado numa montagem aparentemente simples e monocórdia. Texto, aliás, dito de forma segura - por talentos individuais que formaram um elenco homogêneo, demonstrando a dedicação e precisão da equipe em ensaios e o conhecimento do texto. Gosto da multiplicação dos papéis, com mudanças corporais e de voz a cada tipo apresentado. Muitos espectadores podem não ter percebido, mas assistiram a uma montagem não-condensada (mas editada) onde cada personagem tem seu espaço bastante preservado ainda que em alguns momentos certos ‘cortes’ fossem meio bruscos. Nada novo em coxias e contrarregragem assumidas. Lembrando: o mesmo Aderbal dirigiu "Hamlet" recentemente.
É rara a montagem de ‘Macbeth’ que evidencie o bom humor do bardo inglês. Os risos contidos em momentos pontuais confirmavam a percepção desse humor, mostrando a força dos diálogos e o envolvimento da platéia mais atenta a eles. As figuras das bruxas (as ‘três irmãs’) logo no começo pareciam determinar uma linha que não foi muito explorada e mesmo não sendo a forma que mais gostei de ver, foi criativa ao mostrá-las como senhoras inglesas fofocando na hora do chá.
Senti que a última cena de Lady M., onde sua ‘loucura’ é mostrada, perdeu força ao ser guiada por uma serva e um médico. Seguindo por aí, confesso que esperava – não sei como – um pouco mais de força por parte de Renata Sorrah que, mesmo assim, estava excelente.
Não sou fã de microfones no teatro, mas muitas vezes é necessário e, tendo incomodado no começo, passa a ser natural ao ouvido depois de alguns minutos, pelo fato de ser ambiente e não lapela. A espectadora ao meu lado não se furtou de dizer "esse microfone pega tudo, até o barulho das cadeiras, coisa chata". Se não tivesse microfone, ela deixaria de ouvir o ruído que é igualmente parte do espetáculo?
A nota triste ficou por conta de um comentário logo atrás de mim: “teatro tem que ser comédia, não adianta...” E assim retoma-se a discussão: que espaço tem essa arte não-industrializável num mundo tão tecnológico, imediatista, onde idéias são expressas em 140 caracteres? Seria, afinal, a morte do teatro que vem sendo apregoada desde seu nascimento?
Nenhum comentário:
Postar um comentário