Ocasionalmente alguma notícia ou informação tende a causar comoção geral, discussões acirradas pessoal e, especialmente, de modo virtual na pequena camada da população que tem acesso virtual e se importa.
É o caso, mais uma vez, de uma pesquisa realizada pelo IPEA
- Instituto dePesquisa Econômica Aplicada.
Desta
vez, com relação ao pensamento sobre violência contra mulheres e casos de
estupro, que, como sabemos, não atinge apenas um gênero.
Daí
que fui ao site do IPEA buscar mais
informações sobre a pesquisa. Em primeiro lugar, aparecem textos (notas técnicas) apresentando uma interpretação
geral da pesquisa. Busquei mais informações sobre duas pesquisas: violência
contra a mulher e estupro no Brasil, visto que é importante saber com quem foi
feita a pesquisa.
Indignação
geral ao recebermos a informação de que mais da metade dos brasileiros acredita
que o comportamento e roupa da mulher (principal vítima) induz ao estupro.
Parece-me que nós, indignados, precisamos atentar para a ignorância desses
entrevistados ainda que isso, justificadamente, não diminua nossa indignação. Através
dos resultados das pesquisas, entendemos que se o estupro começa em casa, não
poderia ser diferente a percepção do brasileiro. Infelizmente não encontrei dados sobre a amostragem. Senti falta de dados
sobre os estupradores conhecidos como escolaridade, por exemplo.
Vamos
pensar a respeito de informações que não são novas, apenas atualizadas e já que as vítimas sentem medo e/ou vergonha de
prestar queixa e realizar exames físicos, é aterrorizante pensar que apenas 10%
chegam ao conhecimento da polícia.
Em
números gerais:
Cerca
de 70% dos estupros e abusos sexuais são
cometidos contra crianças e adolescentes.
Cerca de 70% são cometidos
por parentes próximos (maior incidência por pais biológicos) ou conhecidos da
vítima e da família.
A violência é cometida
dentro de casa:
em
79% dos casos atingindo crianças
(até 13 anos)
em
67% dos casos atingindo adolescentes
(14 a 17 anos)
em
65% dos casos atingindo adultos
(acima de 18 anos)
Quando
o agressor é conhecido, o estupro ocorre mais de uma vez em mais de 40% dos
casos.
Analisando
apenas estes itens, como se pode imaginar que a roupa ou comportamento da
vítima seja o fator causador? Salvo se o entrevistado acreditar que o pai
veste a filha com roupas provocantes e a faz dançar sensualmente para
justificar SEU comportamento após várias cervejas à tarde ou à noite. (baseado
na informação sobre vítimas, perfil do agressor e circunstâncias).
De
outro lado, pensemos juntos: um agressor que se crê no direito (ou dever) de realizar tal ato, tendo
praticado e se aprimorado dentro da família sem maiores problemas (visto que
uso de álcool e drogas estão mais presentes em atos contra adultos), ao buscar
vítimas na rua ou escolas (2º e 3º lugares ‘preferidos’ para estupros a pessoas
mais velhas) VAI PROCURAR ALGUÉM CUJA ROUPA É DIFÍCIL DE TIRAR? Ele pode ser
muitas coisas mas certamente não é burro. Quer o que for mais fácil. Por isso o
alvo crianças, adolescentes, mulheres dentro de casa, é o mais visado.
Preferencialmente em dias ‘úteis’ quando demais moradores estão envolvidos em
atividades como trabalho e/ou estudo. Ainda assim, há aumento desses crimes
nos meses de inverno – quando, em boa parte do país faz frio e/ou chove e as
pessoas estão com mais roupas e agasalhos.
Parece-me
importante salientar também o perfil da vítima no quesito cor/raça: acima de
35% são consideradas brancas, chegando a 45% nas vítimas adultas. Assim como
acima de 35% são pardas em todas as faixas etárias. As demais etnias ficam
sempre abaixo de 10% (etnia negra 10,6% dos adultos).
Isso
dá o que pensar.
Certamente
o perfil patriarcal/machista da população não apenas permite, mas até certo
ponto incentiva tal comportamento, como o dizem os pesquisadores afirmando
inclusive, o papel dos meios de comunicação em tal panorama. A divulgação de
tal pesquisa é importante para construção de políticas públicas que antes de
tudo, informem e ajudem a mudar a consciência do brasileiro médio.
Quantos
ficariam insensíveis ao saber das conseqüências para as vítimas? A maioria vê
apenas o ato em si, o que, aparentemente não é suficiente sensibilizá-la.
Quantas pessoas repensariam suas opiniões ao saber do número de crianças
grávidas, infectadas (cerca de 80%) por HIV e outras doenças, pessoas que ficam
abaladas de modo irreversível e até mesmo cometem suicídio após sofrerem
violência?
Urge
serem feitas campanhas internas e reavaliação de funcionários públicos que
trabalham diretamente com estes casos.
Urge
serem feitas campanhas de conscientização da população sobre causas reais da
violência, suas conseqüências e principalmente sobre a importância de as
vítimas procurarem ajuda.
Fonte: diretamente nos links acima a partir de http://www.ipea.gov.br/
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