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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

querem acabar comigo, mas isso eu não vou deixar

        Carta aberta à população e classe artística atuante na cidade de Porto Alegre/RS.
                            
       O cidadão que acompanha e verifica notícias de fontes variadas, que  acompanha, dentro do possível, o andamento de projetos na câmara municipal, congresso (câmara e senado) está mais apto que os demais a votar com consciência e dispensa propaganda eleitoral. Pouco esforço é necessário pra entendermos por que no Brasil a Cultura e a Educação - que andam juntas são as pastas com menor orçamento em prefeituras, estados e na união. Onde as pessoas são capazes de pensar e consequentemente tomar decisões, votar de acordo com seus conceitos e ideais elas também se tornam donas de seu próprio futuro enquanto cidadãs e muito menos sujeitas a serem roubadas e enganadas em estelionatos eleitorais.

   Cultura é tudo. É como se faz negócios em um lugar, como ocorrem os partos, como as pessoas se vestem, como elas falam o mesmo idioma em qualquer ponto cardeal, como se relacionam socialmente e, naturalmente, é como se produz todo tipo de arte.

   A partir dessa ideia, façamos um exercício pra entender o que acontece hoje na cidade de Porto Alegre. Sugiro ao público e aos artistas que se dispuserem a ler esta carta que tracem um paralelo com qualquer espaço público que conheçam, em que tenham o hábito de buscar cultura ou nele trabalhar e vejam depois se está muito longe da realidade que usarei como exemplo agora. Talvez algumas pessoas considerem longa, porém a forma de fazer entender a realidade passa pelo entendimento da história.

    A Usina do Gasômetro foi desativada – como geradora de energia – em 1974. Permaneceu fechada durante 17 anos sem que houvesse qualquer interesse efetivo de uso público ou privado do local.
   Em 1989 o prédio foi indicado como Espaço Cultural do Trabalho pela Prefeitura e, a partir de 1991, seus 18.000m² foram reativados com a formação do Centro Cultural Usina do Gasômetro. Como é comum mundo afora, espaços abandonados geralmente são resgatados por artistas para trazer lazer, informação, cultura.
   
    É o maior espaço cultural da cidade de Porto Alegre e é, provavelmente, o mais 
   democrático também. Já ocuparam espaços na Usina diversas coordenações
   da Secretaria Municipal de Cultura e diferentes projetos aos poucos ddesarticulados. Pra quem não sabe, nela existem os seguintes espaços.

   Térreo
  - espaços para exposições (Galeria Iberê CamargoGaleria dos Arcos)
  - saguão onde são feitas exposições, feiras e eventos variados
  - Memorial da usina
  - Usina do Papel, espaço para pensar a reciclagem, produção, consumo e descarte de papel e oficinas.

   Segundo andar
  - espaço para eventos, exposições, feiras,  apresentações artísticas.
  - espaço para café com terraço
  - prometida para entrar em funcionamento em 2008 de acordo com o site da
    PMPA (Prefeitura Municipal de Porto Alegre) está a Sala Elis Regina, que ddeveria funcionar como um bem organizado teatro. Foram desalojados grupos  dentro da usina justamente para criar um novo espaço teatral que na prática não funciona e teve algumas poucas obras feitas por pessoas que, penso eu, nunca entraram nos bastidores de um teatro pois não entendem as necessidades técnicas para um espaço teatral. O local onde trabalhava um grupo e deveria ser camarim da sala, é hoje apenas um depósito.

    Terceiro andar
   -  Sala P. F. Gastal, primeira sala municipal de cinema
   - coordenação de cinema, fotografia e vídeo
   - café na entrada do cinema
   - havia outras instalações e projetos

   Quarto andar
   - terraço grande nos fundos, com vista pro Guaíba: sempre interditado para manutenção. A verdade é que essa manutenção nunca ocorre e ele está tão danificado que parte do piso cedeu e há riscos para o público.
   - pequeno terraço frontal
   - salas de espetáculos e trabalho continuado de grupos de artes cênicas
   - Sala de Capacitação digital com cursos de informática para todas as idades

    Quinto andar
   - salas ocupadas por grupos
   - salas de multiuso
   - Galeria Lunara, para exposição de fotografias

    Sexto andar
    A área é utilizada, entre outros setores, pelo Núcleo de Serviços Gerais e pelas coordenações do Carnaval, das Manifestações Populares, Setor de Mostras e há também uma sala para a Banda Municipal cujo espaço, por direito, deveria ser no Auditório Araújo Viana, na prática hoje, privatizado.

      A Usina apresenta ainda um grande espaço externo, com estacionamento,  local para shows, feiras, eventos e o Bar Chaminé Usina.
   
     Saliento, entre outros, dois projetos: Usina das Artes e Usina da Educação
    
     Usina das Artes
     Sendo talvez o único projeto no país neste formato que reconhece e   estimula o trabalho continuado, proporciona espaço físico e pequena ajuda de custo mensal para desenvolvimento e pesquisa de linguagem em artes, além de apresentações artísticas, oficinas e dezenas de atividades em teatro, dança, circo, música, capoeira, atividades para terceira idade, mágica, bonecos, cultura italiana, consciência ambiental – gratuitas ou com preços populares e acessíveis.
    Existe desde 2005 e tornou-se lei municipal em 2009. Entretanto, os mais de 30 grupos atualmente no Usina das Artes - inclusive grupos de Canoas e Viamão - todo ano vêem seu trabalho ameaçado com a possibilidade de o projeto ser encerrado com a notícia de que novo edital não será lançado para ocupação.
   Cada grupo apresenta projeto para o período seguinte que é avaliado por integrantes da SMC. Alguns grupos estão lá desde o início do projeto e compartilham os espaços destinados ao Usina das Artes com dezenas de  outros grupos convidados. Já participaram mais de 80 diferentes companhias e o público estimado desde 2005 supera o número de 3 milhões de pessoas.
   Muitos grupos e trabalhos ali desenvolvidos são reconhecidos e premiados    nacional e internacionalmente, comprovando a importância do desenvolvimento 
   artístico continuado da Usina.  
   Usina da Educação
   Realizado entre 2010 e 2012, o Projeto Usina da Educação em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SMED) e Fundação de Esporte e Cultura do Sport Club Internacional (que pagava os cachês dos  artistas/monitores/professores envolvidos) ofereceu em turno inverso às aulas a alunos da rede pública municipal de ensino, atividades diversas como oficinas de arte com diversos participantes do Projeto Usina das Artes, acompanhamento em atividades externas e chegou ao fim por solicitação da SMC, cuja responsabilidade era o local para que acontecesse.

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    Todo o movimento cultural, artístico e educacional foi o principal fator de revitalização do prédio da Usina do Gasômetro e arredores, especialmente a orla do Guaíba. A comunidade participou na escolha das cores com que o prédio seria pintado após uma reforma, os barcos passaram a realizar mais passeios e com mais procura do que até então.
     A parceria com Bienal do Mercosul, Itaú Cultural, SESI e tantas outras, proporcionou à população grandes exposições de diferentes temas e origens. A recepção de feiras e eventos como Fórum Social Temático, Feira da Biodiversidade e Feira da Vinhos aproximou do espaço eminentemente artístico a cultura de negócios, debates sociais e políticos de suma importância na formação do cidadão, tanto quanto apresentações internas e externas no espaço da Usina.

    No entanto – e agora chegamos ao exercício mencionado no princípio, visto que toda área do cais do porto foi efetivamente perdida para a iniciativa privada no intuito de fazer do espaço (já ocupado pela Bienal de Artes, pela Feira do Livro e pela produção cinematográfica gaúcha) um local pejorativamente elitizado, visando apenas a construção de novos centros de compras onde talvez pessoas vestidas de maneira simples sejam impedidas de entrar por não apresentarem condições de consumo, podemos perceber discretos mecanismos de depreciação da Usina do Gasômetro para convencer a população de que o melhor é ceder o espaço à mesma iniciativa privada.
    Acompanhe o raciocínio.

    Acesso
    A retirada de árvores que traziam um pouco mais de sombra e frescor ao entorno da usina foi rápida, já as tais obras de alargamento...
Cada vez mais difícil chegar ao local com transporte público. Grosso modo é necessário tomar duas conduções para se chegar lá. Passam linhas da região metropolitana e vindo dos bairros há uma linha de ônibus da Zona sul (188-Assunção) uma do Menino Deus (178-Praia de Belas) e a linha que desce boa parte da Av. Protásio Alves (492 Petrópolis Sesc) passando por diversos bairros (necessária inclusive por quem precisa chegar à Cidade Baixa (Teatro de Câmara), Centro Administrativo do Estado, Colégio Parobé, DAER, IPE, TJ e Forum, Receita, Câmara Municipal e tudo que está na região, sempre foi uma das mais demoradas (frequência baixa? poucos carros?) cerca de 20 minutos. Agora demora até cerca de 30 minutos de segunda a sexta-feira. Sábado o intervalo pode chegar próximo a uma hora e no domingo ela não existe, sua rota é unida à linha 493 Jardim YPU e só pra ter certeza de que não existia, cheguei a esperar mais de 1 hora e 30 minutos, mas o intervalo regular deve ser um pouco menor, quero crer. Há uma linha circular que acaba em si mesma, no centro apenas e passa pela frente do Museu do Trabalho ali na Andradas, mesmo trecho por onde passam duas linhas circulares mais centrais. À noite em frente à usina, vindo do centro em direção aos bairros (depois fazendo a volta circular) a linha 'Balada Segura', mas que poucas pessoas sabem que além dos Bares, ela passa na frente da usina do Gasômetro ou seja: há como sair de lá depois, pois ela passa a cada 30 minutos, mas apenas a partir de 22h até 4h30.
Lotação...? Aeromóvel na porta (ah, não tem verba pra transporte 'alternativo') Trensurb?

    Limpeza e segurança
    Ao lado da Usina havia algumas edificações antigas onde eu mesma pude ter aulas de formação profissional direcionadas a atores. Com o plano de ocupação do cais por empresários, estes locais dariam um ar “pobre e sujo” ao empreendimento e misteriosamente, sofreram um incêndio.
    Mesmo com a capatazia do DMLU ao lado, assim como boa parte da cidade  que perdeu suas lixeiras de rua, a orla foi sendo esvaziada de maneira lenta, para que ninguém tivesse onde colocar lixo. Devido ao fato de muitas pessoas terem preguiça de carregar latas de bebidas, papéis e outros detritos, eles são deixados pelo chão na região, dando argumento aos defensores da privatização.
    O mesmo se dá internamente na Usina. Quem costuma entrar lá sabe que
    não há mais as pequenas lixeiras nos andares e mesmo com os grupos   limpando as salas que ocupam e removendo algum lixo dos andares, o
    público deixa copos e latas nos cantinhos da construção. As lixeiras foram
    diminuindo até sumirem totalmente.
    Há apenas uma do lado de fora, junto ao semáforo em frente da entrada
    principal e as lixeiras dos vendedores ambulantes da orla. A limpeza e manutenção das salas são feitas pelos próprios grupos.

    Qual foi a última vez em que alguém viu policiamento cotidiano na região? A partir de 2010 não lembro de ter visto a BM por ali. O efetivo da Guarda  Municipal no prédio diminuiu de tal forma que há domingo – dia de maior movimento – em que os dois (sim DOIS!) guardas presentes decidem, por conta própria (?), fechar as portas do prédio impedindo a entrada do público com a justificativa de que é impossível fazer a vigilância. Junte-se a isso os grupos artísticos com agenda marcada, com cenários e artistas prontos, esperando um público impedido de entrar.
    Argumentos de quem quer destruir o centro cultural: a população e os grupos não sabem cuidar, está sujo, não tem segurança/policiamento (não posso deixar meu carro lá) e de qualquer maneira, não há público.

    Equipamentos
    Apesar de ser um ‘aparelho’ da Secretaria Municipal de Cultura (da Prefeitura, portanto), os poucos equipamentos de som, luz e vídeo disponíveis estão sucateados pelos anos de uso, por mais que funcionários e grupos tentem fazer a melhor manutenção possível. Recentemente a Bienal ocupou espaços na Usina e deixou alguns consertos e melhorias para parte do retorno previsto. Mas também “emparedou” duas salas de teatro que ficaram escondidas por uma exposição e mesmo depois da Bienal, lá permaneceram, aparentemente, a pedido da SMC.

   O terraço dos fundos (maior) está sempre interditado “para manutenção”, como citado anteriormente.

    A maior parte do local não tem qualquer ar condicionado, ventilador ou refrigeração. Calor e frio extremos levam desconforto para o público que ‘ousa’ ir até lá assistir algum espetáculo.

     Privatização
    Assim como o Auditório Araújo Viana, na prática, é hoje um espaço privado  com apresentações apenas para quem possa pagar altos valores de ingresso, há quem defenda a privatização da usina. Já que as pessoas que comandam espaços como o Multipalco (que já engoliu milhões de reais e não fica pronto nunca) dizem claramente que o Theatro São Pedro não é pra qualquer um, querem mais espaços diferenciados e fazem todo esforço pra que isso aconteça.
     Ao atual senhor secretário municipal de cultura – conhecido no meio cultural pelo desmantelamento dos espaços e projetos por onde passa, coube uma pasta sem muitos recursos financeiros de acordo com os conchavos políticos e partidários a que se submete por interesses que não nos dizem respeito mas certamente não incluem a defesa da cultura e da educação no estado e no município, se analisarmos o que está acontecendo em Porto Alegre.
   Com seu constante sorriso dissimulado através do qual se percebe que finge  receber com atenção quem o procura em seu gabinete climatizado,  provavelmente pensa na ‘chatice’ de ter que estar ali por obrigação da  incumbência que recebeu. É já velho conhecido do meio cultural desde sua passagem pela SEDAC e outros setores em que fez o que sabe fazer melhor: destruir todos os projetos que pareçam levar à população cultura e educação.
    Perversamente, nada muda após encontros da classe manifestante na busca por seus direitos.
    Diz o ditado: a necessidade é a mãe da criatividade.  Se a Prefeitura e SMC dizem não ter mais recursos para manter um espaço com a Usina do Gasômetro, por que não apoiaram e ajudaram a planejar o projeto de fazer do Centro Cultural uma fundação?
    Como esperar algo de quem teve a ideia de alardear publicamente um  suposto aumento de recursos para a cultura em evento público onde estava o prefeito, sabendo que este tipo de aumento depende de um planejamento, discussões intermináveis, escalonamento dos recursos retirando de outras secretarias dinheiro do qual não abrirão mão? Sabendo que, na verdade, já estava previsto mais um corte no orçamento? Cartada para uma pressão pública, dirão alguns. Demagogia pura, digo eu.
    
    Episódio recente

    Como participante do Projeto Usina das Artes, o grupo como qual trabalho deve, como os demais, entregar sua programação com antecedência e desde novembro de 2013 tínhamos agenda de apresentações integrando a programação do Festival Porto Verão Alegre para 28, 29 e 30 de janeiro.
    Como é de conhecimento público, os aparelhos de ar condicionado dos teatros municipais (além de toda deficiência de som e luz) costumam não funcionar no verão. Sendo o calor nesta época forte como sabemos, chega a ser insalubre receber o público que paga ingresso em total desconforto.
    A sala minúscula ocupada por nós e grupos convidados tem espaço para, com cenário, receber no máximo 30 espectadores. Não tem camarim, banheiro, ventilador. Mas estamos felizes em ter um local onde guardar nossos poucos pertences de figurino e cenário sempre reciclados e mantidos para os trabalhos de repertório e novos e nesta época fazemos reuniões e ensaios no corredor e no terraço, por causa do calor.
    Em janeiro de 2013 apresentamos a mesma peça prevista para 2014 no terraço frontal do 4º andar, como forma de minimizar os efeitos do calor ao público e experimentar um novo espaço. Apesar de um pouco diferente da concepção original (usamos velas, sombras, etc), a essência do espetáculo  estava ali mas a dificuldade em montar e desmontar todos os dias equipamentos e cenário contribuiu para que neste 2014 pedíssemos emprestado uma sala do quinto andar, com ar condicionado. Algumas semanas antes, soube-se que o equipamento estava estragado e que a empresa licitada ainda não havia ido até a Usina realizar o conserto. Como não foi até hoje, apesar de um contrato com a prefeitura.
    Quatro dias antes da estréia soubemos que o leilão de camarotes do carnaval da cidade seria realizado na usina do Gasômetro exatamente no dia de nossa estréia. Pra quem não conhece, imagine um carnaval em forma de leilão, com caixas de som com música alta, centenas de pessoas gritando lances. Alguém dentro da secretaria conhecia a agenda do centro cultural, certo? FICA UMA DÚVIDA: pra que mais serve o sambódromo que é utilizado apenas uma vez ao ano?
Já que moradores da zona norte tem tanta carência de espaços culturais e dificuldade de acesso aos já existentes, por que o tal espaço prometido à APLUB não é feito junto ao Sambódromo, revitalizando o local e levando à população da região possibilidade de arte e cultura perto de casa?
    
    Aguardamos até a véspera de nossa estréia por uma solução do ar condicionado e lembramos que havíamos realizado no terraço, sendo esta uma alternativa ao cancelamento. Na manhã desse dia (véspera) recebemos telefonema de técnicos da prefeitura que trabalham na usina com a informação de que não fariam a instalação de equipamentos no terraço.
     Imaginem nosso constrangimento em ter que cancelar com ingressos vendidos antecipadamente, pra dizer o mínimo!
 
     Ligamos para a secretaria adjunta de cultura que nos informou que o ar condicionado do teatro Renascença seria consertado naquele dia e ia TENTAR mandar pra lá os ventiladores alugados. Procurada, a coordenação de artes cênicas informou em seguida que isso não ocorreria, pois um possível conserto apenas faria funcionar 50% do aparelho.
    Observação: de tanto calor, os equipamentos de som e luz deixam de funcionar no meio do espetáculo no Renascença.

     Procuramos a chefia dos técnicos para conseguir pelo menos, aparelhagem de som e projeção, pois faríamos a luz com lanternas, mas faltando 24h para a estréia, ainda não sabíamos se teríamos este equipamento.

    Graças ao dono de uma empresa de equipamentos de luz e mais um técnico independente que voluntariamente se ofereceu para nos ajudar, conseguimos algumas lâmpadas conhecidas como “ribalta” para ter alguma luz além da iluminação externa do terraço. Este equipamento chegou lá poucas horas antes da estréia, foi montado com o cenário por duas pessoas do grupo (sendo uma delas atriz que deveria estar em cena em seguida) e este técnico debaixo de sol escaldante de 45ºC. E nós olhando os ventiladores da sala de capacitação digital ligados desde a terça-feira (ainda estão) com a sala vazia...
    O equipamento de som e projeção foi montado pelos técnicos da prefeitura que, cada um em seu dia de plantão, foram muito solícitos.
    Como a tentativa de nos fazer desistir não para por aí, ao solicitar que fossem abertos os banheiros do quarto andar, recebemos a resposta de que não havia água na Usina e não seriam abertos os banheiros. O grande mistério fica por conta de haver água em todos os outros andares. Contando mais uma vez com a pena dos técnicos, um deles nos ofereceu a chave do cinema a fim que pudéssemos usar o banheiro junto ao café do terceiro andar, pra que não precisássemos atravessar o saguão do térreo com centenas de pessoas em meio ao tal leilão. Afinal, é minimamente recomendável um local próximo do espaço teatral onde os artistas e público possam urinar e lavar as mãos. Além disso, é um local com espelho também – já que não temos camarim – que nos serve para caracterização (maquiagem, cabelo, figurino) dos personagens.
    Natural e infelizmente, estamos acostumados a maquiar com espelhinhos de 10 x 10 cm na sala, pra não nos chamarem de luxentos que só se maquiam em banheiros e/ou camarins.

    Programar leilão de camarotes do carnaval no dia em que há apresentação teatral na Usina, recusar a abertura de banheiros no andar em que ela acontece não é apenas descaso com a cultura. É um tiro silencioso no direito do público de assistir o que ele pretendia. É uma afronta à cidade, à população que paga suas contas, que paga impostos e vai ao teatro em busca de cultura, lazer, pagando ingresso pra que nós, artistas, possamos também pagar nossos impostos.

    No primeiro dia, caiu uma pancada de chuva e tivemos que ensacar e cobrir equipamentos e lâmpadas clamando aos céus misericórdia na hora de fazer a peça. No segundo dia, um vendaval levantava cadeiras e empurrava atores e cenário. Assim mesmo, seguimos, rezando durante toda a apresentação.
    No terceiro e último dia – esta quinta-feira 30 de janeiro, o grande vendaval e chuva de granizo levantaram pilhas de cadeiras, fizeram voar praticável que ao cair se desmanchou em pedaços – com risco de cair do terraço em alguém na rua. Nas salas do 4º andar, uma delas a sala que  ocupamos, há um teto interno de vidro e uma claraboia. Ouvimos um estouro e por sorte não havia ninguém na sala pois um dos vidros do teto estourou com o vento caindo sobre outros vidros, não no interior da sala. Ficamos no corredor até que a tempestade cedesse esperando faltar luz. Tentamos ainda montar o espetáculo e às 20h começamos a montagem pra depois nos vestirmos e maquiarmos para a apresentação das 21h.
    infelizmente o clima não ajudou desta vez e, debaixo de chuva, tivemos que recolher todo o equipamento e cenário.
    Com tudo isso, fica como recado o título tão apropriado de nossa peça, a partir de uma música de Roberto Carlos.
   “QUEREM ACABAR COMIGO”  mas isso eu não vou deixar, ele canta.

    JURO QUE NÃO, COMPLETO EU.



             Silvana da Costa Alves, portoalegrense nascida artista.

2 comentários:

Unknown disse...

Carissima, a luta é árdua e pelo visto longa. A usina do gasômetro parece mais um deposito onde está "tudo" e não se reverencia nada. Uma pena, para um cartão postal da cidade e um local que abriga tantas manifestações artísticas. Inclusive eu que aqui do Sudeste, já pude contar com as instalações - mesmo que precárias - do espaço. Porém... a arte é feita de resistência né. E você e os meninos do seu grupo permanecem sobrevivendo. O espirito é esse? Não deveria ser SÒ esse né. Queremos respaldo, segurança, conforto e incentivo. Mas... enquanto tudo isso não chega, o que fazemos? Continuamos. Porque qual seria a outra opção? (Rodolfo Lima)

Unknown disse...

Carissima, a luta é árdua e pelo visto longa. A usina do gasômetro parece mais um deposito onde está "tudo" e não se reverencia nada. Uma pena, para um cartão postal da cidade e um local que abriga tantas manifestações artísticas. Inclusive eu que aqui do Sudeste, já pude contar com as instalações - mesmo que precárias - do espaço. Porém... a arte é feita de resistência né. E você e os meninos do seu grupo permanecem sobrevivendo. O espirito é esse? Não deveria ser SÒ esse né. Queremos respaldo, segurança, conforto e incentivo. Mas... enquanto tudo isso não chega, o que fazemos? Continuamos. Porque qual seria a outra opção?