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sábado, 5 de junho de 2010

"Cinema" no teatro

Tem algo que sempre falo, escrevo, penso, repiso: educação formal de base é algo muito esquecido nos últimos 15 anos (chutando). Ontem fui assistir “Cinema”, trabalho da Sutil Companhia de Teatro, que há muito tinha vontade de ver. O que eu nunca tinha lido a respeito – evito ler críticas antes – era sobre a estética utilizada. Talvez propositalmente não divulguem ou não queiram dar um rótulo.
Ultimamente jovens realizadores de diferentes manifestações artísticas vêm, novamente, visitando e experimentando o movimento surrealista. Palavrinha fácil nas bocas de filósofos de boteco, estética explicada geralmente com exemplos de trabalhos de Dali e Buñuel.
Gostar ou não é outro assunto.

Mas fiquei interessada especialmente pelo resultado nas pessoas que saíam da sala de teatro. Isso, pra mim, foi mais interessante que o próprio trabalho, pois no momento em que me ficou claro o surrealismo, o que aconteceu foi uma sucessão de imagens coladas aparentemente diferentes, mas que nada acrescentavam ao que já estava definido desde os 10 primeiros minutos de peça: fatos corriqueiros, aumentados ou fantasiados numa sala de cinema. Citações explicitas como a repórter falando que pessoas estavam estranhamente ‘presas’ na sala de cinema (Buñuel) ou o ator/personagem falando em russo apenas confirmavam a opção pelo surreal.

Na saída, falava com um amigo sobre nossas impressões e confirmaram-se minhas expectativas: a maioria das pessoas saiu meio tonta, sem saber o que pensar, ou se deveria pensar. A grande dúvida é: ajuda você saber sobre a estética usada? Ou justamente esse estranhamento causado levaria a conjecturar sobre o que foi visto, pensar no que foi sentido por causa disso sem rótulos previamente identificados? Talvez as duas coisas. Nesta última hipótese, funciona. Pra mim, fica chato. Apesar de reconhecer – por conhecimento de causa – o enorme trabalho ao qual o grupo se dedicou. Eu mesma já tive oportunidade de estudar mais de perto o surrealismo quando o Teatrofídico preparava a versão de “O Anjo Exterminador” de Buñuel para teatro, em Porto Alegre.

- Que coisa maluca!
- Meu, cê entendeu alguma coisa?
- Nossa, muito divertido...
- Nunca mais vejo peça de graça!

Pessoas de idades bem diversas tinham reações diferentes não necessariamente vinculadas ao que se ‘esperaria’ de alguém daquela idade. Senhoras com sorrisos satisfeitos e jovens incomodados me lembraram a questão da educação formal. Já falei várias vezes disso de ter tido a oportunidade de aulas de música, artes, filosofia no colégio. Pois ficou muito claro que a experiência de vida e qualidade de ensino daquelas ajudava na apreensão deste trabalho e que a escola fraca e facilidade de ter tudo mastigado pela comunicação de massa destes dificultava o que poderia ter sido pura diversão, pois havia momentos engraçados de maneira muito simples.
Quando se espera “o de sempre” fica difícil deglutir algo novo.

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