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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Zé Mario Storino 1° nov 57 - 14 nov 09


Eu tenho essa mania de exorcizar meus fantasmas escrevendo. Digitando, como ele me corrigiria. Quando perdi um outro amigo, alguns anos atrás, algumas pessoas ao me verem sacar de um pequeno papel em sua despedida, acharam que eu fosse desfiar aqueles elogios intermináveis que fazem parecer santo aquele que se foi. Me abstenho disso.
Primeiro, por que temos claro que ninguém está aqui de bonzinho.
Segundo, por que cada um conhece uma faceta de quem se foi e ficar enaltecendo as qualidades apenas na ocorrência da morte física é piegas e desnecessário. Mas a gente é assim, né? EU SOU ASSIM. Mas espero ter começado a aproveitar melhor meus amigos. Só não sei se tenho tempo de escrever mais do que alguns depoimentos 'orkustísticos' pra eles. Mas darei um jeito.

A morte do corpo físico é a única certeza que todas as pessoas têm na vida. Disso não depende crenças, fé religiosa, conhecimentos científicos... E mesmo assim, agimos como se não existisse.

"És pó".

Eu luto muito contra minhas imperfeições e sei que voltarei ainda algumas vezes pra mudar algumas delas. O mais que tudo, preciso aprender com as pessoas que a vida tem a generosidade de me apresentar. E sinto apenas que a distância geográfica tenha espaçado nossos papos, mas nunca nossos corações.
Talvez as pessoas pensem que os depoimentos no orkut e tudo que for dito agora sobre ele é apenas causado pela dor da perda. Ledo engano. É a mais pura verdade.

Assim como todos, ZM tinha lá seus defeitos. Mas eu não conheci. Levante a mão quem um dia o viu brigar, xingar, falar mal de alguém. Levante a mão quem um dia o viu deixar de atender um pedido de ajuda. Levante a mão quem um dia o viu reclamar de alguma agrura da vida.
CARALEO! Tava tudo ali, e eu aproveitei tão pouco. Nos conhecemos apenas lá por 1993, quando fui substituir uma atriz em "A Revolta dos Perus" em Porto Alegre. Aquele trabalho me ensinou horrores, me trouxe amigos e colegas muito bacanas, mas - desculpem Lisi, Carlos, Meme(+), Roberto - o Zé Mario foi o mistério mais emocionante que me acompanhou ao longo destes anos. Depois ainda fizemos outro espetáculo infantil juntos e trabalhamos ainda com Paulo Guerra mesmo que não juntos no elenco.

Zé Mario Storino. Ator, cantor, locutor, operador de som, luz e o que mais viesse. Até parecia mineiro, não fosse carioca optante por Porto Alegre, coisa que por mais me explicasse, eu nunca entendi muito bem.
Nossos papos passavam pela culinária, livros, peças, tanta coisa de cultura que a gente curtia dividir. Às vezes eu tava chateada com alguém ou alguma coisa, ele apenas ouvia. Não me criticava, não defendia ninguém. Lá pelas tantas soltava um comentário que mais parecia um conselho. Quando ele contava sobre um novo trabalho com que estava envolvido, era só pra ressaltar as coisas boas. As ruins, se houvesse, ele se abstinha de contar. Quando tinha algum "porém" ele já havia falado pra pessoa e se falava pra gente, era no intuito de usar como exemplo pra alguma coisa. Sem citar nomes, de preferência.

Ele deve ter se atrasado pra algum compromisso, mas eu nunca soube ou ouvi dizer.

Acho que o perfil dele no Orkut denota bem o tipo de mentalidade que ele mantinha: "pro alto e avante!" E os depoimentos não são exagerados ou mentirosos.

Falhei com ele: nos últimos meses tão louca aqui correndo atrás de mim mesma que tive pouco tempo pros nosso papos internéticos que vieram substituir os telefonemas de longas horas.

A última vez que nos vimos, ele foi rapidamente me ver no Centro Cultural Erico Verissimo, no lançamento de 'O Atirador', pois ele tinha saído de uma peça infantil, corria pra outro teatro e ao invés de parar pra comer, optou por me ver nas poucas horas em que eu ficaria em POA. Se a gente adivinhasse né, Zé, eu teria alongado ainda mais aquele abraço gostoso de sempre e ter feito rir com alguma bobagem pra ouvir mais uma vez a risada sincera.

Há um ano ele falou pra alguém, sobre mim: "cuida bem dessa mulher, pois se eu tivesse casado, só teria sido com ela!". Ele me respeitava. Nem sei bem por que, mas era assim. E eu a ele. Simples assim.

3 comentários:

Anônimo disse...

eu tb exorciso escrevendo...

http://marjoriebier.wordpress.com/

Unknown disse...

OooH Sil linda... ainda falamos do Zé quando nos vimos aí em Sampa, com muita esperança que ele se recuperasse. Deus então resolveu que era a hora dele, quis ele por perto, vai ver tá faltando gente tão amável e especial lá em cima, por isso quem sabe Ele levou justo nosso amado Zé Mario!... Enfim, a gente segue por aqui, né? E perdas como essa só nos fazem valorizar ainda mais as pessoas queridas e amadas. Bj nesse lindo coração amiguinha! Até mais ver, que seja breve!

Unknown disse...

Diretor de teatro, professor. Só tive tempo para conhecer essas atividades dele, mas sei que foram muitas. E por isso ele nunca vai ser esquecido, a fila de admiradores é grande. Vai em paz, Zé.